quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A liderança Prozac e os limites do pensamento positivo

Quando um estilo de gestão torna-se otimista em excesso ele se afasta da realidade e torna-se um problema

David Collinson, professor da Lancaster University Management School, da Inglaterra, publicou na revista Leadership (vol.8 n.2 - maio 2012) um interessante artigo chamado “A Liderança Prozac e os Limites do Pensamento Positivo”. Ele afirma que os excessos da liderança positiva podem fazer com que as pessoas deixem de pensar criticamente e ver a realidade concreta, levando a empresa a tomar decisões erradas.

O autor analisou aproximadamente 200 estudos sobre liderança, pensamento positivo, dinâmica organizacional e reconhece que a habilidade de persuasão é um fator de sucesso na gestão, e que o otimismo é um dos mais eficazes métodos de comunicar objetivos e metas.

Entretanto, diz ele, quando há um exagero nessa forma positiva de ver a realidade, pode-se cair no otimismo excessivo, numa “exuberância irracional da realidade” ou mesmo numa “tirania do pensamento positivo”. Em síntese, ele diz que “Líderes Prozac”, como ele denomina, podem acabar acreditando em sua própria narrativa de que tudo está bem e como consequência questionar cada vez menos a verdade desejando não ouvir qualquer coisa que seja contrária à crença de que tudo vai bem, se isolando cada vez mais  e se distanciando da realidade concreta.

Um estudo de 2003 evidenciou o termo “otimismo delirante”, que o autor usa para descrever as circunstâncias da aquisição pelo Royal Bank of Scotland (RBS) do banco holandês ABN Amro, em 2007.  Foi a maior aquisição bancária da história, e ocorreu, simplesmente, no início da recessão global.

O ABN foi exposto à crise das hipotecas dos EUA. O tamanho do negócio enfraqueceu o balanço do RBS, que foi socorrido pelo governo do Reino Unido.  Para Collinson, as empresas que acreditam que o otimismo recompensa e desencorajam o pessimismo, perdem a capacidade de pensar criticamente.
 
Em 2010 foi realizado outro estudo que examinou o otimismo exagerado de Wall Street e suas consequências danosas. Quando um gerente questionou os pressupostos ao “boom” dos preços da habitação, foi-lhe dito: "Você se preocupa demais."

Collinson ressalta que ao insistir na comunicação aos subordinados excessivamente positiva, sem incentivar a crítica, pode silenciar os colaboradores comprometidos e preocupados. “Os funcionários podem reter seus pontos de vista como uma forma de proteger a sua carreira, reputação, salário, e segurança no trabalho”, diz.

De fato, as perspectivas otimistas dos líderes nem sempre são aceitas ou internalizadas por seus seguidores, diz o autor, e a liderança Prozac pode gerar uma ampla gama de respostas e tipos de dissidência.  Funcionários desencantados podem se envolver em subversões menos evidentes como o absentismo, ou simplesmente estar em desacordo com a cultura local de trabalho dominante, criando tensão.

Por exemplo, um estudo mostrou que, apesar das descrições de uma companhia de petróleo sobre os compromissos de segurança, divulgando como "incansável", "abrangente" e "a nossa preocupação número um", muitos trabalhadores, em duas de suas plataformas de petróleo do Mar do Norte, não divulgaram acidentes ou quase acidentes por causa de uma "cultura da culpa".  Os trabalhadores reclamaram que aqueles que relataram para a segurança suas preocupações, as avaliações foram dadas como pobres, afetando salários e a segurança no emprego.  "Assumindo que a ocultação não poderia ocorrer, já que esta contradizia a cultura de aprendizagem", escreve o autor, os gerentes seniores continuavam no escuro sobre os problemas de segurança nas plataformas, um reflexo do "seu excesso de otimismo e distância das práticas de offshore."

Fonte: lea.sagepub.com/content/8/2/87.abstract

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