quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Psicodinâmica em Negócios


Por Karina Magolbo - Editora da Revista Liderança
Empresários que aprendem a lidar com mecanismos de defesa aumentam o lucro dos negócios
Com base na convivência com mais de 1.200 empresários ao longo dos últimos 12 anos, Luiz Fernando Garcia, especialista em gestão comportamental aplicada aos negócios e criador da metodologia Psicodinâmica em Negócio, lançou recentemente o livro Empresários no divã (Ed. Gente). Luiz Fernando afirma: “Donos de negócios devem deixar de praticar no ambiente de trabalho o ‘deslocamento’, quando levam para a empresa os problemas de casa; a ‘negação’, quando deixam de enxergar um problema para tentarem realizar seus objetivos; a ‘idealização’, que é a paixão em excesso por seus negócios; e a ‘projeção’, quando transferem aos outros desejos e/ou conteúdos que são seus”.
A seguir, a íntegra do depoimento exclusivo que o especialista deu à revista Liderança.
Sobre o que se trata
“Sou um especialista em gerir o comportamento de empresários e criei um método chamado Psicodinâmica em Negócios. Esse método tem 12 anos e estamos na 43ª formação, que denomino Grupo Dirigido. As reuniões são quinzenais, de 13h30hs à 19h30hs, durante 17 meses. Os grupos são exclusivos para donos de negócio. A modalidade é terapêutica. O que se aprende? Psicologia clássica e psicanálise clássica. Eu não trabalho com PNL e nem com a área motivacional. Os empresários aprendem as teorias da psicologia e os teoristas da psicanálise. Psicanálise não é psicologia. Ela se orienta pelo inconsciente. Na psicologia, existem várias abordagens para explicar a mente humana. Isso é chamado de psicodinâmica. No estrito senso, a psicodinâmica é um termo da psicanálise. A dinâmica psíquica atua nas pessoas entre os 0 e 7 anos de idade e influencia pessoas na função de liderança. De outra forma, ela influencia essas pessoas usando as mesmas referências e sensações experimentadas pelo indivíduo entre esses 0 e 7 anos de idade. Isso é psicodinâmica na psicanálise. A psicodinâmica no lato senso são as várias formas que a psicologia tem para explicar os aspectos da mente humana.”
Freud
“Mecanismos de defesa são processos subconscientes que procuram solução para conflitos não resolvidos ao nível da consciência. A psicanálise supõe a existência de forças mentais que se opõem umas às outras e que batalham entre si. Há diversos mecanismos de defesa. São 27 ou 23, dependendo da literatura. No grupo, os empresários aprendem três. Os que são mais comuns em um ambiente de negócio. Como o trabalho é terapêutico, os empresários vão participar de dinâmicas para enxergar o comportamento deles sendo atuados com os mecanismos de defesa.”
A pesquisa
“Quando completei 4 anos de trabalho com Grupos Dirigidos de empresários, fiz minha primeira pesquisa. No ano passado, fizemos uma pesquisa de doutoramento, com 826 participantes. Essa pesquisa é chamada na área acadêmica de Pesquisa de Amplitude e Impacto. Em toda pesquisa, precisamos determinar o que vai ser estudado. No setor acadêmico, chamam isso de CHA: competência de Conhecimento, Habilidades e Atitudes. Analisamos quais comportamentos se alteram nesses empresários investigados. Como eles atuam com esses comportamentos alterados. O que os faz desenvolverem-se melhores enquanto gestores. Por fim, quanto disso tudo se reflete nos resultados de uma equipe e de uma empresa.”
Resultados e conclusões
“Um aspecto marcante é que quando eles aprendem (empresários) sobre mecanismos de defesa, têm mais consciência de suas relações com os colaboradores. Quando os atacam (brigam, discutem), na verdade, muitas vezes, estão a se defenderem. Há uma clara evolução na percepção disso pelos participantes. Isso altera a forma como eles se comportam ao permitir um melhor manejo dos mecanismos de defesa, por exemplo, o mecanismo de defesa chamado negação (negar realidades desagradáveis, frustrantes). Quando o empresário percebe que está lidando com alguns aspectos da tomada de decisão, ele reduz a impulsividade na aquisição de insumos para a empresa (que ele quer muito comprar). Um dos aspectos da pesquisa é que ela mostra que ele reduz a impulsividade de compra, no aspecto de gestão: comprar uma máquina antes da hora. Ele vai protelar esse momento, se tornar mais comedido, menos impulsivo.”
Projeção
“Outro mecanismo de defesa é a projeção. Projetar é colocar em outros, aspectos de nós mesmos. Tenho inveja do outro e o ataco. Quero algo que o outro tem e não tenho. Quando julgamos alguém estamos projetando desejo ou conteúdo. Por exemplo, sócios. Quando eles entendem sobre projeção, diminuem-se os ataques entre eles. O responsável pela área de vendas está viajando muito e o sócio-administrativo tem que cumprir o expediente. Eles se desentendem: "Aquele vagabundo está sempre ausente, não aparece mais, deve estar namorando..." Mas e se as vendas aumentam? O que o sócio-administrativo está projetando é o desejo de também querer estar fora, viajando e não somente tendo de cumprir o expediente na empresa. Quando se compreende esse mecanismo, os conflitos se reduzem consideravelmente.”
Deslocamento
“Outro mecanismo é o deslocamento, típico na empresa familiar. Aspectos da família que o indivíduo desloca para dentro da empresa. Ele está mal com a esposa e começa a falar com a equipe de forma agressiva. Quando se percebe o deslocamento, aumenta-se a tolerância, tanto com a família quanto com a empresa. Aprende-se a relevar aspectos que não são tão importantes.”
Idealização
“A idealização é mais um dos mecanismos de defesa. Toda relação nova é, via de regra, idealizada. Seja a compra de uma máquina, a compra de uma unidade nova, a contratação de um novo gerente. Quando se entende como funciona a idealização, começa-se a se dar conta que a visão que se tem de um novo plano pode ser otimista demais. Faz com que o empresário construa cenários, tanto positivos quanto negativos, para poder criar planos de ação mais realistas e sem impulsividade, mais pé no chão.”
Feedback
“É interessante perceber pelos resultados da pesquisa que a capacidade de dar bons feedbackspraticamente triplica, porque o participante passa também a perceber os mecanismos de defesa de seus colaboradores. O feedback é mais acolhedor, mais pontual, menos genérico. Isso, obviamente, melhora a comunicação, o clima organizacional e a coesão da equipe.”
Mecanismos de defesa e lucratividade
“A relação é direta. Os respondentes da pesquisa indicaram que após promoverem alterações em seus comportamentos, perceberam ganhos financeiros em suas gestões. Temos uma pesquisa feita no Grupo Dirigido, comprovando que durante o processo de imersão do grupo (17 meses), a receita aumenta em 34%. O turnover nas empresas é reduzido, em média, 15%.”
Freud, um grande empresário?
“Não. Freud foi, em sua época, um grande empreendedor científico. A inquietude dele ajudou muito, protagonizou uma nova compreensão. É considerado o terceiro maior gênio da humanidade. O primeiro é Copérnico, por descobrir que nós não somos o centro de nada. O segundo é Darwin, por mostrar que não existe ‘costela de Adão’. Tocar um negócio é um babado totalmente diferente. Mas suas descobertas ajudam, e muito, a melhorar uma gestão.”
Serviço

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