quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Empresa válida: o lucro como um meio


Por Francine Brustolin - Revista Liderança
Nélio Arantes é formado em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas (EAESP-FGV). Desde 1969, atua como executivo de importantes empresas instaladas no País e, em 1979, começou a atuar como consultor, participando de processos de melhorias e desenvolvimento de sistemas de gestão que têm contribuído eficazmente para o aprimoramento de ferramentas de administração das empresas.
Em sua trajetória, observando a prática de várias empresas que obtiveram bons resultados, criou o conceito de empresa válida. Essa foi a denominação que deu às organizações que possuem valores e pautam sua atuação neles; elas são fortalecidas e, portanto, resistem melhor aos momentos difíceis, como crises, fusões, aquisições e reestruturações.
“Um empreendimento válido deve ser capaz tanto de gerar lucros para garantir sua sobrevivência, seu crescimento e sua continuidade quanto para assegurar que o lucro seja obtido dentro de princípios que contribuam para o progresso social, beneficiando não só a empresa, mas todos os envolvidos”, afirma Arantes, que recentemente lançou o livro Empresas válidas, pela editora Évora.
Com o desenvolvimento do conceito, Nélio Arantes tem auxiliado as empresas na sua implementação, além de ser professor da Escola de Marketing Industrial, primeira instituição de desenvolvimento de competências de executivos do País a aplicar os conceitos de empresa válida. Arantes, que também é autor do livro Sistemas de gestão empresarial – Conceitos permanentes na administração das empresas válidas, falou à revista Liderança deste mês (www.lideraonline.com.br) sobre oito princípios que caracterizam a atuação dessas empresas e que reproduzo aqui de forma resumida.
  1. Criar produtos e serviços de utilidade e valor: as empresas válidas, ao pensarem em um produto ou serviço, estão focadas na necessidade do cliente, na chamada utilidade. Fazemos uma distinção entre utilidade e produto. Para brincar um pouco com o conceito, produto seria o que a fábrica faz e a utilidade o que o cliente compra. Por exemplo, o telefone é um produto. Na verdade, a utilidade é uma boa comunicação entre as pessoas, e encontramos esse conceito muito claro nas empresas válidas. Já nas empresas que buscam a maximização do lucro, que chamaremos de “empresas de visão econômica”, quando se fala em produto, elas se preocupam com as características técnicas, físicas e químicas dele. A empresa válida procura sempre a utilidade que o produto terá para o cliente.
  2. Criar e manter clientes satisfeitos: trata-se de desenvolver a habilidade de ir além de atender às demandas de seus clientes, mas oferecer soluções sobre as quais ele próprio ainda não havia pensado e contribuir para que o seu negócio prospere e que os seus respectivos clientes e todo o mercado sejam beneficiados com isso.
  3. Promover a capacidade de evolução deliberada: é muito comum as empresas em geral evoluírem em função dos problemas que vão surgindo. Conforme vão aparecendo, são resolvidos e a empresa cresce. As empresas válidas agem de maneira diferente, criando estágios de evolução em que são capazes de analisar: “Ótimo, estamos indo bem, como podemos ser melhores?”. Elas criam objetivos a serem atingidos e depois traçam outros, buscam evoluir estabelecendo aonde querem chegar, e não procurando evoluir por meio da solução de problemas.
  4. Atrair, desenvolver e manter talentos: aqui temos uma diferença fundamental entre empresas de visão econômica e empresas válidas. As primeiras chamam as pessoas que trabalham para elas de mão de obra, porque pressupõem que são seres que trabalham de maneira automática e estão ali somente para realizar um trabalho. As empresas válidas tratam as pessoas como talentos, ou seja, como aquelas que vão efetivamente contribuir para a consecução dos resultados; pessoas que têm a capacidade de pensar em inovações, prover soluções que vão prover os resultados.
  5. Construir e manter relações significativas: falamos sobre relações com todos os agentes que afetam a empresa e são afetados por elas – clientes, fornecedores, funcionários, distribuidores, acionistas, parceiros, órgãos do governo etc. As empresas válidas procuram aprofundar a relação com essas pessoas, e não apenas ter relações eminentemente econômicas. Em muitos casos, elas desenvolvem trabalhos conjuntos com fornecedores e clientes, buscando melhorias, e vão, com isso, estabelecendo verdadeiras relações que são seu grande patrimônio. Dessa maneira, os clientes e funcionários são cada vez mais leais, porque são relações autênticas, e não aproveitadoras.
  6. Usar os recursos com produtividade: uma das responsabilidades fundamentais das empresas válidas, quando estão atuando, é utilizar muito bem os recursos que obtêm da sociedade para trabalhar. Elas focam com a maior responsabilidade o fato de pertencerem a uma sociedade da qual retiram recursos, e que, portanto, essa sociedade precisa permanecer saudável, já que é dali que provêm os recursos. 
  7. Praticar princípios de conduta aceitos: empresas válidas têm um profundo respeito pela sociedade na qual atuam, acreditam que devem não somente zelar pelo sistema social como contribuir até mesmo para desenvolvê-lo e enriquecê-lo. Isso pressupõe que elas precisam ter um comportamento adequado aos princípios de conduta que a sociedade aceita. Existe uma grande ênfase em praticar esses princípios de comportamento dentro dos padrões que são aceitos na sociedade em que atuam.
  8. Obter um lucro justo: muitas vezes, quem ouve falar em empresas válidas me questiona: “Então essas empresas não querem lucro?”. E eu respondo que querem sim. Não só querem como precisam, pois se não têm lucro, elas fecham. Aliás, elas enxergam o lucro até como uma necessidade social, pois se começarem a dar prejuízo, prejudicam funcionários, fornecedores e toda a sociedade. O lucro é uma premissa para manter essas empresas vivas. Porém, elas acreditam que esse lucro deve remunerar o esforço que fazem para produzir as utilidades da melhor maneira possível. Por isso se chama “justo”. Não é ganhar o máximo possível no menor período de tempo, mas ser remunerado por meio do lucro pelo serviço que elas prestam à sociedade. Empresas que cumprem esses requisitos terão seus lucros reconhecidos e vistos como merecidos por parte da sociedade.

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